sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Escuridão.



Foge,
A escuridão envolve-me...
A mim, ao meu coração.
Como um invólucro à minha volta
No qual permaneço
E me mantenho conservada.
A escuridão é fria, congela-me.
É tudo lento e pesado.
Até o ritmo a que consumo esta vida maldita
Neste meu passo,
Em que pouco a pouco me arrasto.
É este o ritmo a que definho
E sofro neste sufoco,
Nesta angústia de viver
Sem conhecer o verdadeiro sentido da vida.
Alivia-me ter a escuridão
Embrenhada em mim
Numa imensidão
Que se revela sem fim.
E por me tornar nesta sombra oculta,
Mas que não é imune ao alheio.
Neste mundo em que o receio
De me tornar igual a tantos outros
E perder a minha própria sina,
O meu próprio céu estrelado e com luar.

sábado, 18 de outubro de 2008

Sentindo tudo.



A vergonha de viver arrastando-me,
Sentindo e chorando
Proibindo o desabrochar da vida,
E no entanto é por vivê-la ao pormenor
Pensando a cada instante,
Captando mil uma impressões ao mesmo tempo.
Sentindo tudo.


Porque não sou capaz,
Captar sensações felizes
Não me satisfaz
E quero dirijir-me
De sorriso cínico e constante
De estar sempre contente
Ignorando o que sou e o que emano,
não quero submeter-me ao engano.

Se alguma vez desapareceres.



Se alguma vez desapareceres da minha vida,
Sentirei uma eterna perda.
Uma vida outrora vivida
Jogada ao mar,
No fundo esquecida.
Fechada num cofre a mil chaves
Permanecendo sempre tua
Minha alma entristecida
Esperaria pela chegada da tua.
Por sentir de novo o teu toque por perto.
Sentindo que me vieste buscar,
Para sentir teu corpo no meu;
E para que nunca mais me afunde
E deixe de ver a luz que tu me mostraste
No meio desta nossa escuridão,
Que faz parte de nós, me guiaste
E que dá cor a esta nossa cumplicidade
A esta mútua necessidade
Que sentimos um do outro.

Uma espera custosa.



Com o sol a desaparecer,
Apercebo-me de que mais um dia passou.
Mais um dia em que não consegui perceber
Porque realmente aqui estou.

Uma existência sem propósito.
Um passado sem sentido.
Uma ânsia dolorosa
Uma espera custosa.

Cada dia que passa,
Mais frustração me arrasa.
Mais um dia no esquecimento
Em que abandonada
Vaguiei ao relento
Como se já não vivesse
Sem ter morrido, realmente.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sem sinais de pessoa.



Sinto-me vazia,
Consolada pela minha solidão
Isolo-me na minha faceta sombria,
Deito-me sobre a pedra fria
E congelo meu coração.

Deleito-me entre o pó e cheiro a mofo.
No meu vácuo o silêncio ressoa.
Sou alma morta em corpo oco,
Sem restos nem sinais de pessoa.